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Editorial

É preciso um freio

Nos últimos anos, o Brasil e o mundo tem presenciado um fenômeno jamais visto na humanidade. Similar, talvez, nos períodos das grandes guerras, onde, por motivos totalmente diferentes desses dos dias atuais, um ser humano era capaz de cometer verdadeiras atrocidades contra outro. Fosse pela posse de terras, riquezas mineiras ou supremacia racial, de fato, já merecemos algumas vezes perder a distinção de "ser humano".

Já matamos por muito pouco ou quase nada desde crianças, mulheres à idosos. Já condenamos à morte centenas, milhares, milhões, pela cor da pele, o formato da caixa craniana ou opção sexual desde que não fossem exatamente iguais às nossas.

Contudo, essa crueldade, ignorância, mediocridade, infelizmente, não deixamos para trás, num passado muito distante, devidamente trancafiadas num baú de concreto jogado ao fundo do oceano e em local incerto. Pelo contrário, de tempos em tempos, parece que temos uma espécie de saudade do retrocesso.

Saudosismo de rancores, racismo, ditaduras e barbáries. É como se algumas décadas de evolução civilizatória nos cobrassem um preço logo ali adiante. Um alto preço. Nada pode explicar esta espécie de masoquismo intelectual que uma parte considerável de nossa população parece ser afeita.

E neste início de século XXI, tudo toma proporções incalculáveis. Uma palavra mal colocada no contexto de um comentário, uma imagem suspeita, ou a simples menção do nome em um texto de procedência duvidosa, é motivo de sobra para um completo linchamento virtual com seríssimas consequências no mundo real.

Mas, há uma luz no fim do túnel. Afinal de contas, é preciso reagir de alguma forma a esse vale tudo que tomou conta da rede mundial de computadores, principalmente, das redes sociais. Os idealizadores desses mundos paralelos estão muito pouco interessados em resolver o problema, até porque, estão faturando e alto. Seja qual for a hora do dia ou da noite, você que lê este texto, sempre que adentrar neste mundo virtual irá se deparar com mais de 90% de conteúdo totalmente descartável e que não agrega em nada com a convivência entre as pessoas, muito pelo contrário.

Nos últimos dias, empresas mundiais como as gigantes Starbucks, Coca-Cola, Diageo e Unilever anunciaram que pretendem suspender suas propagandas em algumas plataformas de mídia social como protesto pela falta de ação contra "discurso de ódio" nessas redes.

Hoje, no Senado da República, aqui no Brasil, está em tramitação um projeto sobre a confecção e compartilhamento de notícias falsas, as chamadas "fake News". Contudo, convencido por seus pares, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, adiou para amanhã, terça-feira, dia 30, a votação do projeto de lei que visa combater este tipo de conteúdo disseminado pelas redes sociais (PL 2.630/2020).

Como já era de se esperar, a depender de nosso Parlamento, precisaremos ter paciência para poder perceber em nosso dia-dia, alterações na legislação vigente que façam irresponsáveis e desumanos sentir na pele as consequências do retrocesso humano.

Entretanto, no que diz respeito à ação das empresas multinacionais, as consequências já não notadas. "Nós acreditamos em unir as comunidades, tanto pessoalmente como online.", afirma a Starbucks em um comunicado. A empresa disse que pretende continuar publicando material nas redes sociais, mas sem promovê-lo de forma paga.

Em comunicado, a marca disse que pretende "manter discussões internamente e com seus parceiros de mídia e organizações de direitos civis para pôr fim à disseminação do discurso de ódio". A norte-americana Coca-Cola vem pedindo "maior responsabilização" das empresas de mídia social e comunicou que vai interromper o fluxo de dinheiro destinado à sua publicidade em todas as plataformas de mídia social no mundo.

Por sua vez, a Unilever, dona de diversas marcas de comida e higiene, disse que reduzirá pela metade sua publicidade no Twitter, Facebook e Instagram até "pelo menos" o resto de 2020.

A promessa de moderar o conteúdo publicado, como foi anunciado pelo fundador das empresas de redes sociais, Mark Zuckerberg, não é o bastante. Caso nada for feito, estamos caminhando para dias sombrios. É preciso colocar um freio.


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